04/08/2022
A região do Vale do São Francisco é um grande expoente no cultivo e exportação de frutas com cerca de 70% das vendas externas desses produtos destinados ao continente europeu. Dessa forma, quaisquer riscos políticos, logísticos e econômicos na Europa podem afetar as cotações como também gerar interrupções e/ou diminuições do fluxo de comercialização da cadeia frutícola da região e de outros polos de produção de frutas.
Os desdobramentos da guerra na região do Mar Negro ainda vêm sendo repercutidos no velho continente desde o início das sanções. Um novo capítulo desse conflito ganhou forma nas últimas semanas com um possível risco de fornecimento de gás russo. Essas incertezas geraram uma desvalorização do Euro frente ao dólar americano nas últimas semanas e traz preocupações quanto ao setor de fruticultura, principalmente, aos produtores e agroindústrias que possuem a região como principal destino das exportações. Isso porque os recebíveis de tais vendas são em Euro (€) e parte relevante dos custos de produção atrelado a moeda americana (US$), como compras de insumos (fertilizantes e defensivos), o que sugere que descasamentos cambiais, em casos de enfraquecimento adicional do Euro, poderão levar à perdas de margens por parte de produtores/agroindústrias.
O atual momento de desvalorização do Euro
Desde junho, o Euro vem perdendo força em relação ao Dólar, movimento que em grande medida é explicado pelo risco de um corte prolongado no fluxo de gás natural da Rússia para a Europa, elevando as chances de um racionamento na região e/ou impactos econômicos na atividade. A Rússia já vinha diminuindo o fluxo de gás para a Alemanha em um de seus principais gasodutos e, mais recentemente, uma manutenção programada levou este fluxo a zero, aumentando as incertezas sobre a possiblidade de sua normalização completa à frente, em meio às tensões elevadas por conta da guerra com a Ucrânia. Na última quinta-feira (21), parte deste fluxo de gás voltou a ser bombeado, mas ainda com capacidade limitada.
A consequência deste evento é a elevação dos preços de gás natural na Europa, representando um choque negativo de oferta para a região. Um dos impactos a serem avaliados é a potencial desaceleração da atividade econômica (tal risco se acentuaria em caso de racionamento), o que poderia levar a um cenário em que o Banco Central Europeu tenha que subir menos os juros à frente.
Neste contexto, essa ponderação de riscos de menor crescimento econômico e menor diferencial de juros (em relação à dinâmica ascendente das taxas das Fed Funds nos EUA), contribui para trazer o Euro de volta à paridade em relação ao Dólar, depois de tantos anos. Caso o choque amplo de preços de gás fosse incorporado nas métricas de conta corrente da Europa, os modelos do time de Macroeconomia do Itaú BBA indicam que a taxa cambial poderia alcançar 0,90 Dólar por Euro. Ainda que isso seja um risco de curto prazo, o cenário do time indica que a taxa de câmbio deve alcançar 1,05 Dólares por Euro ao final de 2022, o que representaria uma apreciação da moeda europeia em relação ao dólar até o fim do ano.
Contribui para esta avaliação: (i) a hipótese de normalização do fluxo de gás Russo para a Europa, o que evitaria o cenário de racionamento energético na região; (ii) uma postura mais reativa do Banco Central Europeu no combate às pressões inflacionárias, que pode contribuir para o fortalecimento da moeda à frente.
Provocações à cadeia exportadora de frutas
Diante desse cenário de incertezas e volatilidade das moedas internacionais, muita atenção deve ser dada à mitigação dos riscos cambiais que no caso da cadeia frutícola se concentra no “descasamento” entre fontes de receitas em Euro e os custos em USD.
Nesse sentido, é importante que o gestor avalie a utilização de ferramentas de gestão que contribuam para controlar esse risco com o objetivo de evitar
perdas relevantes não esperadas.
Fonte: Relatório Consultoria Agro Itaú BBA / Agrolink