O presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Guilherme Coelho disse que a guerra na Ucrânia “bagunçou” a logística que envolve o mercado de fertilizantes.
O Brasil tem se preocupado com as importações de fertilizantes da Rússia para adubar a produção nacional de soja e outros produtos. Segundo dados de comércio exterior do Ministério da Economia, dos US$ 5,7 bilhões importados no ano passado pelo Brasil, US$ 3,5 bilhões foi de fertilizantes.
“Em Moscou, foi importante tratar outros temas, mas tratamos principalmente sobre fertilizantes, foram reuniões boas, sobre nitrogênio, potássio, e transcorreu num clima de cordialidade e eles nos pedindo proteína animal, carne de gado, carne de frango, saímos animados com as reuniões de alto nível. A ministra Tereza Cristina também esteve no Irã conversando para que mandassem mais fertilizantes, é oferta e procura, mas a guerra bagunçou tudo”, disse Guilherme Coelho sobre a viagem à Rússia – anterior ao conflito.
O presidente da Abrafrutas destacou a viagem que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que vai ao Canadá em busca de alternativas ao fornecimento russo. Em entrevista coletiva, Tereza disse que esta safra está garantida e que a preocupação é com a de verão, plantada entre setembro e outubro.
“Temos que ficar acompanhando, a grande safra é muito importante e tem maiores volumes de fertilizantes. É safra de milho, soja, algodão, e o país é uma potência nisso. A informação que temos é que esse problema poderá surgir no meio de setembro, na segunda safra, mas entramos em contato com produtores de fertilizantes”, disse Guilherme.
A ministra vai ao Canadá, maior exportador de potássio do mundo, para negociar a compra de fertilizantes. Segundo Guilherme Coelho, a proposta do governo brasileiro é tentar abrir novos mercados para não continuar na mão de poucos exportadores. Ou seja, o Brasil deve procurar produtos que não comercializa, hoje, com o Canadá, e buscar novas negociações em troca de uma compra de fertilizante.
Ainda de acordo com Guilherme, os fretes estão cada vez mais caros, os contêineres estão mais caros e há preocupação com uma possível ausência de navios para transporte. Isso preocupa do ponto de vista da logística para a importação.
Fertilizantes
Na visão de Guilherme Coelho, o Brasil deveria produzir mais fertilizante para diminuir a dependência do mercado externo. “É importante reforçar que o Brasil vinha no caminho até certo para deixar essa total dependência de fertilizante do mundo. Em 2014, fábricas foram feitas em Sergipe, Paraná, Mato Grosso, mas com o petrolão foram paradas e não retomadas. Pagamos preço caro por isso”, comentou.
Segundo o presidente, uma fábrica em Três Lagoas (MS) foi comprada por uma empresa russa para a produção de ureia – fertilizante sólido muito utilizado para realizar a adubação de plantas – e faltam licenças ambientais para isso.
Exportação
“Em 2021 exportamos US$ 2,7 milhões para o país. Desse total, US$ 1,6 bilhões foram mangas. A pauta também inclui limões e gengibre. Semelhante ao que acontece no Brasil, também compramos mais da Rússia do que vendemos. No ano passado foram R$ 80,6 milhões e, desse total, R$ 32 foram de malte”, detalha o analista de negócios internacionais do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiepe, Vinicius Torres em entrevista recente ao JC. O Vale do São Francisco, região entre Pernambuco e Bahia, é responsável por 87% da manga exportada pelo Brasil. Ano a ano, as exportações de manga vêm cravando recordes. Em 2021, de acordo com a Abrafrutas, a manga foi a fruta mais vendida lá fora pelo País.
Foram embarcadas cerca de 272,5 mil toneladas de fruta, representando um aumento de 12% em relação aos embarques no mesmo período de 2020. Já o malte é um produto importado para atender ao Cervejeiro de Pernambuco, que conta com fábricas da Ambev, Petrópolis e Heineken, além das cervejarias artesanais.
Fonte: Jornal do Comércio / 10.03.2022