19/07/2025
Diante do tarifaço anunciado pelo governo dos Estados Unidos, que afetará a partir de 01/08/2025 as exportações brasileiras de frutas, legumes e pescados, as Centrais de Abastecimento Alimentar (Ceasas) precisam atuar de forma coordenada para absorver os excedentes produtivos e evitar impactos negativos como desemprego, desperdício e colapso da renda agrícola.
O que as Centrais de Abastecimento podem fazer para absorver o que não for exportado. Ajudando a preservar emprego e renda, regulando preços evitando desperdícios?
As Centrais de Abastecimento (CEASAs), por sua estrutura e função estratégica na cadeia de distribuição de alimentos, podem adotar várias medidas para absorver o excedente da produção que não for exportado. Isso pode ser fundamental para evitar desperdícios, manter a renda dos produtores e preservar empregos. Abaixo, seguem algumas ações possíveis: propostas estruturadas por eixos de ação.
1. ESTÍMULO AO CONSUMO INTERNO E REDISTRIBUIÇÃO
Parcerias com programas sociais:
– Firmar convênios com prefeituras, governos estaduais e federais para fornecer alimentos a escolas, hospitais, cozinhas comunitárias e cestas básicas.
– Ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) ou similares, atuando como canal direto entre produtores e consumidores de baixa renda.
Doações organizadas:
– Criar sistemas eficientes de doação a bancos de alimentos, ONGs e entidades filantrópicas.
Monitoramento de preços e volumes:
– Criar boletim semanal com alertas sobre preços e volumes dos produtos afetados.
Campanhas educativas com consumidores:
– Estimular consumo interno via campanhas, feiras e redes sociais.
2. INCENTIVO À AGROINDUSTRIALIZAÇÃO LOCAL
Transformar excedentes:
– Estimular pequenas agroindústrias a transformar produtos perecíveis em polpas, conservas, sucos etc., com apoio logístico e técnico da central.
Incentivos fiscais e linhas de crédito:
– Apoiar microempreendedores na aquisição de maquinário ou estrutura para beneficiamento dos produtos.
3. CRIAÇÃO DE MERCADOS ALTERNATIVOS
Feiras livres e mercados populares:
– Fortalecer e expandir canais de venda direta ao consumidor.
Venda online e delivery regionalizado:
– Apoiar plataformas digitais e logísticas que levem o produto direto ao consumidor final, como cestas de frutas e verduras por assinatura.
– Comércio institucional: Vendas para quartéis, universidades, presídios e outras instituições públicas.
4. MELHORIA DA LOGÍSTICA E ARMAZENAMENTO
Redução de perdas pós-colheita:
– Investir em câmaras frias, sistemas de embalagem e transporte adequado dentro das centrais.
Logística reversa e cooperada:
– Melhorar a articulação com cooperativas para redistribuição regional e absorção do excesso em mercados de proximidade.
5. PLANEJAMENTO DE PRODUÇÃO E DIVERSIFICAÇÃO
Apoio ao planejamento agrícola regional:
– Trabalhar com associações e cooperativas para evitar a superprodução descoordenada.
– Promoção da diversificação: Incentivar cultivos com maior potencial de consumo interno.
6. CAMPANHAS EDUCATIVAS E PROMOCIONAIS
Campanhas de incentivo ao consumo de produtos sazonais e regionais, mostrando benefícios e incentivando a valorização do que é produzido localmente.
Promoções e descontos organizados para produtos excedentes.
Essas ações, se articuladas com governos e sociedade civil, podem fazer das Centrais de Abastecimento uma peça-chave na manutenção da estabilidade econômica no campo, especialmente em momentos em que o mercado externo se retrai.
7. PROPOSTA DE AÇÃO CONJUNTA NACIONAL
Planejamento da produção e reconversão de culturas:
– Apoiar reconversão produtiva via ANATER, SENAR, CATI, EMATER e órgãos estaduais.
Busca de novos mercados:
– Apoiar abertura de mercados alternativos com APEX, MRE e associações.
As Centrais de Abastecimento Alimentar – Ceasas, por meio da ABRACEN, CEAGESP, CEASA-MG e FLAMA, podem propor:
Mapeamento rápido da produção e excedentes:
– Criar banco de dados emergencial com cooperativas e exportadoras afetadas.
– Identificar volumes e tipos de produtos que deixarão de ser exportados.
Campanhas de compra institucional e escoamento interno:
– Atuar junto a CONAB, MDA, MAPA e estados para absorção via PAA, PNAE, Cozinhas Solidárias e doações aos Bancos de Alimentos.
Acordos com redes de varejo e atacado:
– Mobilizar supermercados e hortifrutis para absorver os produtos com apoio de campanhas promocionais.
– Criação de um Gabinete de Crise para Escoamento da Produção Agroalimentar Brasileira.
– Mobilização emergencial do Sistema Nacional de Abastecimento (Sisan), MDA, MAPA, MDS, ANATER, APEX, CONAB, MRE e outras organizações.
– Pedido formal ao Governo Federal por medidas de compra pública estratégica.
MEDIDAS OPERACIONAIS DAS CEASAS
Revisão temporária de taxas e tarifas:
– Redução ou isenção para entrada de produtos redirecionados do mercado externo.
Ampliação de horários e espaços de escoamento:
– Abrir horários extras e adaptar espaços dos entrepostos para carga emergencial.
Incentivo à industrialização e processamento:
– Apoiar parcerias com agroindústrias e unidades móveis de processamento nos entrepostos.
RISCOS A EVITAR
Risco Ação Preventiva
Queda generalizada de preços Compra pública e estímulo à demanda interna
Desperdício de alimentos Fortalecer logística solidária e bancos de alimentos
Desemprego no setor Apoiar agroindústrias e escoamento imediato
Colapso de renda agrícola Subvenção emergencial e apoio técnico
Autores:
José Lourenço Pechtoll – Diretor Presidente da Ceagesp
Giovanni Papini – Analista da Ceagesp.