O clima seco e quente tem sido severo durante grande parte do ano de 2024. Desde o final do período de chuvas, entre os meses de março, abril e início de maio, diversas regiões do país têm enfrentado um período de seca com altas temperaturas e níveis pluviométricos bem mais baixos que em outros anos, intercalados com as chamadas ondas de calor, que representam longos períodos de temperaturas muito acima do normal para a época.
A estiagem hídrica pode ter efeitos variados sobre a agricultura, dependendo de diversos fatores, como a cultura específica, a fase de crescimento das plantas, as práticas de manejo adotadas e a estrutura, técnicas e tecnologias disponíveis ou adotadas por agricultores. Em alguns casos, a redução da umidade pode favorecer certas frutas e hortaliças, que são mais resistentes à seca e situações adversas, possibilitando um melhor desenvolvimento e até a melhor concentração de sabor.
O excesso de umidade, como acontece nos períodos de muita chuva, observado normalmente nos meses finais de cada ano e que alcançam até os meses iniciais do ano seguinte, favorece o acometimento de doenças e ocorrências de pragas, que atrapalham as culturas agrícolas, em especial, nas hortaliças e frutas. Neste artigo, destacamos a queda dos preços das hortaliças que advém de alguns e importantes fatores, a seguir enumerados.
Primeiro, a baixa umidade relativa do ar pode ser benéfica nessa época do ano. Como dito anteriormente, muitas espécies de culturas produtivas, em especial as de cultivo protegido, têm menor ocorrência de doença foliares e aspectos fisiológicos bem melhores, resultando em condições de aparência, sabor e requisitos de comercialização indicados.
Segundo os custos de produção, pelos motivos expostos, se mostram menores, pois o uso de defensivos e outras formas de proteção das culturas, por exemplo, se tornam, muitas vezes, dispensáveis em épocas mais secas, propiciando a oferta de preços melhores margens de lucro para os agricultores, mesmo com preços mais acessíveis para consumidores.
Terceiro, também importante lembrar que a estação do inverno, que traz seca, acompanhada do frio, em especial nos meses de maio (final), junho e grande parte de julho e tem como reflexo a diminuição do consumo de frutas e hortaliças e a opção por alimentos mais calóricos pela população. Outras questões como a sazonalidade e que tradicionalmente oferecem grandes ofertas de itens muito produzidos nessa época, contribuem para a explicação de grandes ofertas em relação à demanda. É relevante observar as regiões consumidoras e produtoras individualmente, colocando as Ceasas nesses contextos, pois as explicações acima podem não ter o mesmo efeito entre as elas, podendo ser observado diferentes comportamentos de preços entre as diversas praças consumidoras. Apesar desses fatores favoráveis, a seca severa e as queimadas indiscriminadas podem causar danos significativos ao plantio e ao futuro uso do solo. É certo que, a severa falta de água no solo e no ar, prejudica o crescimento e a produtividade das culturas, levando, em geral, a redução da qualidade e produtividade da lavoura. Além disso, as queimadas podem liberar poluentes no ar que afetam e contaminam os perímetros tradicionalmente produtivos. Algumas consequências já foram observadas, como no caso da laranja, que é a fruta que pode ter os maiores problemas devido à massa de ar quente em grande parte do Brasil, que está provocando grande estresse hídrico nos pomares e comprometendo a qualidade de vários lotes.
Já que 85% da produção é concentrada no cinturão citrícola: estado de São Paulo e Triângulo Mineiro, regiões bastante afetadas pela estiagem e ainda mais castigadas, nas últimas semanas, pelas queimadas, que prejudicaram vários pomares, com a extensão dos danos a ser ainda calculada. Como o Brasil é o maior produtor do mundo de laranja e de suco e os estoques do último estão baixos, a tendência é que a indústria continue demandando fortemente a fruta, num contexto em que a safra prevista será baixa e, provavelmente, a safra 2025/26 também, o que provocará menos sobras de frutas para o atacado e mercado de mesa, fazendo com que os preços se mantenham por longo período elevados.
Irregularidade da chuva pode provocar estresse hídrico e prejudicar o desenvolvimento das frutas, como ocorreu esse ano com a banana, cujos preços sofreram elevação por causa da baixa quantidade produzida da fruta, comportamento normal para o período do ano, em entressafra em diversos locais, mas que foi acentuada e continua sendo afetada pela irregularidade da chuva, que afetou o desenvolvimento dos cachos. Os preços, assim, devem continuar elevados pelo menos até início de novembro, quando tradicionalmente entra no mercado a nova safra de nanica advinda do Vale do Ribeira, norte catarinense e norte mineiro, além da banana prata em dezembro originária de Minas Gerais e Bahia, principalmente.
Para as hortaliças, apesar dos preços em queda no período de seca, ressalta-se que a prolongação da ausência de chuvas pode prejudicar as lavouras que não possuem sistema de irrigação. Além disso, as áreas afetadas pelas queimadas demandarão tempo para recuperação, o que pode reduzir a oferta de produtos nos próximos meses. No interior paulista, segundo a Ceagesp, já há comprometimento de algumas plantações de hortaliças nas áreas de seca extrema e com a presença de queimadas, como no caso do quiabo em Ribeirão Preto que subiu a média de preços de R$5,75 em agosto para R$15,50 (170%) na última semana (08 a 14/09). Colaboradores do Hortifrúti/Cepea relataram perda na qualidade da alface no início de setembro em Mogi das Cruzes devido à frequente queima de borda por causa das temperaturas elevadas no interior paulista, pressionando os preços recebidos pelos produtores para baixo.
Resumidamente, enquanto a estiagem pode ter efeitos positivos para algumas culturas, que tenham os meios e técnicas disponíveis, consigam conservar ou incluir nutrientes no solo, preservando a umidade do solo, de outro, as chuvas intensas e a grande umidade trazem dificuldades na colheita e elevados custos para a proteção das lavouras. Porém, a seca extrema e as queimadas geralmente apontam para consequências muito indesejáveis para a agricultura no Brasil, como erosão, perda da qualidade do solo, comprometimento da estrutura histórica conseguidos para os talhões explorados, alterações da microbiota dos terrenos e consequente e a indesejável perda de produtividade.